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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O GERENCIAMENTO DOS NOSSOS CORPOS

VOCÊ E O GERENCIAMENTO DA SUA SAÚDE

Fernando Lefevre
Ana Maria Cavalcanti Lefevre

A pergunta que se coloca aqui é: em que medida, hoje, na atualidade, pode o indivíduo comum gerenciar, autonomamente seu corpo/mente com vistas à saúde?
Porque tal pergunta deve ser colocada?
Basicamente porque hoje, na atualidade, a busca da autonomia do indivíduo no gerenciamento de seu corpo/mente com vistas à saúde é uma busca legítima, ética, necessária mas ao mesmo tempo altamente problemática na medida em que, enquanto tema afeito ao campo da saúde, tal busca está envolvida com a questão das relações entre a esfera técnica e a esfera do senso comum, questão muito complexa e que está ainda muito longe de ser adequadamente resolvida ou até mesmo colocada.
O que é gerenciar seu corpo, o que implica isso?
Um primeiro conjunto de atividades gerenciais relativas ao corpo seria, por exemplo, cuidar do cotidiano do corpo: alimentar o corpo, descansar o corpo, limpar o corpo, descarregar o corpo (urinar, defecar), proteger o corpo da temperatura (calor, frio, vento, etc.).
Tais tarefas são obviamente necessárias para a reprodução básica do corpo, para que ele possa continuar vivo ou não morto e são, legitimamente, de responsabilidade do sujeito portador deste corpo.
Não podemos dizer que este tipo de tarefas implique que o indivíduo esteja cuidando da sua saúde porque ter saúde não é sinônimo de simplesmente viver/não morrer. Estar vivo não é estar com ou ter saúde mas apenas uma condição básica para estar ou ter saúde; saúde pressupõe estar vivo mas significa mais, significa precisamente não estar ou ficar doente.
Cuidar do corpo para que ele não fique ou esteja com doença é portanto cuidar da saúde do corpo, coisa que o indivíduo pode evidentemente fazer mas ai, aparentemente, já não se trata de atividades que impliquem gerência leiga cotidiana do corpo, que o indivíduo leigo realize, com autonomia, mas sim tarefas técnicas, determinadas de fora, pela esfera técnica, ainda que, como sobrevivência ou restos, em extinção de eras pré científicas, este ‘fora’ de algumas tarefas se refira não exatamente à esfera técnica mas a normas, preceitos, mitos, tabus socialmente compartilhados, alguns deles de base religiosa.
O corpo é uma máquina regulada por seu portador (que é o ‘Ser’ correspondente a um corpo) para que possa se reproduzir ou não morrer, mas a partir do momento em que se tratar de saúde/doença, isto é, de bom ou correto funcionamento ou, mais ainda, de não funcionamento de partes ou do todo da máquina-corpo, começa-se, necessariamente, a adentrar os mistérios da sua estrutura (anatomia) e funcionamento (fisiologia), que a modernidade foi considerando progressivamente apanágio e responsabilidade (intransferível?) da esfera técnica na medida em que se foi constituindo uma lei social básica (referente portanto a toda e qualquer área da vida social) que define, estruturalmente, o sujeito leigo como aquele a quem cabe o uso da máquina (de qualquer máquina) por contraste com o sujeito técnico, a quem cabe seu entendimento.
Assim, para entender o gerenciamento autônomo de seu corpo pelo indivíduo portador deste corpo, com vistas à saúde é necessário contextualizar o problema e situar o debate, entre outros, no terreno pantanoso das relações entre o saber técnico e o de cada um de nós, portadores que somos de nossos corpos e nossas mentes.

PORQUE CRÍTICA DA RAZÂO SANITÁRIA?

Temos, eu, Fernando e Ana minha mulher muita coisa para trocar da nossa vivência no campo da saúde e da saúde pública ou coletiva.


Acho que temos pensado muito nas coisas desta área e acho que podemos nos credenciar como sujeitos capazes de sobre ela lançar um pensamento crítico.


Este blog é uma tentativa de socializar esta crítica


Vamos tentar ser leves sem despresar a profundidade do pensamento.