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domingo, 14 de março de 2010

O CASO GLAUCO E A INFORMAÇÃO REFLEXIVIZADA

O caso Glauco parece um fato, complexo, com todas as características de um acontecimento da contemporaneidade, a ser submetido a um processo patológico de julgamento apressado e reflexivização.

(Reflexivização, processo descrito por Giddens como o mecanismo geral, característico do mundo contemporaneao, em que não há mais distinção entre os fatos e suas interpretações, aparecendo ambos concomitantemente.)

Mal o acontecido acontecido e uma gigantesca teia da interpretações e julgamentos se forma – graças também à internet – e temos aí um fato intensamente reflexivizado de sorte que o fato em si, a verdade sintagmática de seus desdobramentos, já pouco importa, em favor dos elementos da trama.

A reflexividade produz, portanto, entre outras coisas, a implosão dos fatos nos temas que se julga estarem nele envolvidos: no caso, a loucura, as religiões e cultos baixamente institucionalizados, a droga, as celebridades, a violência.

Os fatos são pois pretextos (mas também álibis, motivos fortes e concretos) para que a “máquina representativa” seja posta em marcha para produzir uma complexíssima teia de julgamentos girando em torno dos elementos contidos no fato.

Os elementos temáticos dos fatos tem é claro relação com os fatos em si mas também com os próprios elementos que, “de fora dos fatos” são jogados para dentro deles, o que revela a força intrínseca destes elementos na cultura contemporânea.

É também porque a droga, as religiões informais, as celebridades, a violência são temas fortemente presentes na cultura contemporânea que eles são mobilizados para que se julgue que o “caso Glauco” é um exemplo da manifestação (e da “realidade”) destes “problemas”. Veja-se por exemplo o fórum promovido pelo UOL logo após o acontecido (por exemplo, dia 14 de março de 2010).

Não se consegue entender o mundo desta forma; desta forma ele acaba se impondo sobre nós, nos levando cada vez mais para o sentimento de insegurança generalizada a que se referem Bauman e Giddens em seus livros.

Como fazer para dar conta do inferno da reflexividade incontrolada?

Os livros, as teses, em principio julgamentos mais distanciados, equilibrados e sistemáticos, não estão conseguindo fazer isso adequadamente, penso, na medida em que acabam, necessariamente, se distanciando temporalmente, do calor dos acontecimentos perdendo assim muito em atratividade

Quem vai se interessar pelo caso Glauco daqui há um ano?

sábado, 13 de março de 2010

CRIANÇA DESESPERANÇA OU DESPROMOVENDO A SAÚDE MENTAL DAS CRIANÇAS

Para todos aqueles que colaboraram para a campanha Criança Esperança estou propondo uma nova oportunidade para praticar o bem.

A nossa maior rede de televisão está neste começo de ano de 2010, em horário nobre não freqüentado (para a sorte delas) por boa parte das crianças pequenas que numa hora dessas deveriam estar dormindo, nos brindando com mais uma (para mim insuportável mas isso não vem ao caso) novela onde ocupa papel de destaque uma menina pequena, mal saída das fraldas.

A menina em questão desempenha, na novela, papel de criatura má, perversa, intriguenta, chantagista e outras qualidades que tais.

Por certo há meninas e meninos pequenos com estes traços na vida real mas, francamente, a mídia se tivesse um mínimo de ética não deveria estar contribuindo para a reprodução (que é o que faz acobertada pelo álibi de estar apenas retratando “ a vida como ela é”) de criaturas – mormente crianças - com tais atributos.

E a menina, para desgraça nossa, é boa atriz e seu desempenho altamente convincente, contribuindo assim para a eficácia da função reprodutiva.

Moralismo?

Não, mera constatação de uma tendência própria de uma sociedade hedonista, que extrai prazer e gozo do mal, e que, na qualidade de sociedade de consumo, precisa de quando em vez variar a cara do vilão ou da vilã tendo por isso buscado na criança um novo suporte narrativo.

Por certo, para nossa mídia, que os nossos marcos legais pertinentes busquem proteger a criança é visto como entulho autoritário e cerceador da liberdade de expressão e os críticos da exploração midiatica da crianças (exploração de crianças não é apenas sinônimo de trabalho infantil ou pedofilia) um bando de esquerdistas fora de moda.

Pode ser: a queda do Muro de Berlin é um evento cheio de conseqüências imprevisíveis mas como não é proibido nem vexaminoso lançar campanhas estou aqui propondo que todos vocês que contribuíram para o Criança Esperança ou que são simpáticos à idéia e que certamente ao contribuírem estavam pensando em formar uma geração de homens e mulheres de bem, que enviem correspondência para nossa gloriosa Vênus Platinada e ao Unicef (e, porque não, para o simpático Didi Mocó) pedindo o seu dinheiro de volta com a mensagem: “ não foi para isso a nossa doação.”

De fato, pensando bem, porque a equipe que julga os projetos do Criança Esperança não aprovaria um projeto a ser implantado em alguma das milhares de favelas do país para a formação de jovens atores de televisão?

Parece nobre não? Mas e se a “peça de formatura” do projeto fosse uma coisa parecida com esta atual novela onde a “formanda” estivesse desempenhando um papel do tipo do desta pequena vilã?

Bom, eu não posso pedir meu dinheiro de volta porque não sou partidário de campanhas do tipo Criança Esperança mas você que acredita nesta coisas pode.

Seja cidadão, proteste!