Pesquisar este blog

sábado, 13 de março de 2010

CRIANÇA DESESPERANÇA OU DESPROMOVENDO A SAÚDE MENTAL DAS CRIANÇAS

Para todos aqueles que colaboraram para a campanha Criança Esperança estou propondo uma nova oportunidade para praticar o bem.

A nossa maior rede de televisão está neste começo de ano de 2010, em horário nobre não freqüentado (para a sorte delas) por boa parte das crianças pequenas que numa hora dessas deveriam estar dormindo, nos brindando com mais uma (para mim insuportável mas isso não vem ao caso) novela onde ocupa papel de destaque uma menina pequena, mal saída das fraldas.

A menina em questão desempenha, na novela, papel de criatura má, perversa, intriguenta, chantagista e outras qualidades que tais.

Por certo há meninas e meninos pequenos com estes traços na vida real mas, francamente, a mídia se tivesse um mínimo de ética não deveria estar contribuindo para a reprodução (que é o que faz acobertada pelo álibi de estar apenas retratando “ a vida como ela é”) de criaturas – mormente crianças - com tais atributos.

E a menina, para desgraça nossa, é boa atriz e seu desempenho altamente convincente, contribuindo assim para a eficácia da função reprodutiva.

Moralismo?

Não, mera constatação de uma tendência própria de uma sociedade hedonista, que extrai prazer e gozo do mal, e que, na qualidade de sociedade de consumo, precisa de quando em vez variar a cara do vilão ou da vilã tendo por isso buscado na criança um novo suporte narrativo.

Por certo, para nossa mídia, que os nossos marcos legais pertinentes busquem proteger a criança é visto como entulho autoritário e cerceador da liberdade de expressão e os críticos da exploração midiatica da crianças (exploração de crianças não é apenas sinônimo de trabalho infantil ou pedofilia) um bando de esquerdistas fora de moda.

Pode ser: a queda do Muro de Berlin é um evento cheio de conseqüências imprevisíveis mas como não é proibido nem vexaminoso lançar campanhas estou aqui propondo que todos vocês que contribuíram para o Criança Esperança ou que são simpáticos à idéia e que certamente ao contribuírem estavam pensando em formar uma geração de homens e mulheres de bem, que enviem correspondência para nossa gloriosa Vênus Platinada e ao Unicef (e, porque não, para o simpático Didi Mocó) pedindo o seu dinheiro de volta com a mensagem: “ não foi para isso a nossa doação.”

De fato, pensando bem, porque a equipe que julga os projetos do Criança Esperança não aprovaria um projeto a ser implantado em alguma das milhares de favelas do país para a formação de jovens atores de televisão?

Parece nobre não? Mas e se a “peça de formatura” do projeto fosse uma coisa parecida com esta atual novela onde a “formanda” estivesse desempenhando um papel do tipo do desta pequena vilã?

Bom, eu não posso pedir meu dinheiro de volta porque não sou partidário de campanhas do tipo Criança Esperança mas você que acredita nesta coisas pode.

Seja cidadão, proteste!

Um comentário:

  1. Pois é... também não posso pedir nenhum dinheiro de volta!

    Mas sua matéria sobre a pequena precoce fez-me pensar em um fenômeno sobre o qual venho refletindo há algum tempo: a adultização das crianças. Talvez esteja fugindo um pouco do foco, mas observo que há um empenho desse modo de vida contemporâneo (e extremamente capitalista) de inserir as crianças cada vez mais cedo nesse modo de vida.
    Desde cedo as crianças recebem uma carga muito grande de responsabilidade: o dia (e até finais de semana) delas é preenchido por inúmeras atividades (linguas estrangeiras, balé, futebol, judô, natação, grupo de escoteiro e por aí a fora), para mantê-las ocupadas enquanto seus pais trabalham; isso quando não são largadas para a babá (televisão) cuidar de deseducar. E o pior, elas acostumam-se com a ausência dos pais porque estes tem que trabalhar (muito)!
    Desde cedo as crianças são ensinadas a serem individualistas e extremamente competitivas. Elas não jogam pelada com os amiguinhos para se distrair, elas jogam em torneios, no qual vence o melhor. Isso quando não estão jogando futebol em rede! Ah essa rede! Essa maravilha da globalização! Esse meio de comunicação que informa e aliena ao mesmo tempo.
    E por falar em meio de comunicação, pra não fugir mais do foco, quero colocar aqui a minha revolta contra todo o processo de adultização que a mídia promove, colocando programas educativos como "Teca na TV" que, a princípio é bem mais próprio para crianças do que a novela, mas que traz essa característica de enaltecer o amadurecimento da criança!
    Esse processo é tão forte que, esses dias, não pude deixar de rir da cena da minha sobrinha - a qual minha irmã tem o maior zelo para não deixar assistir as baixarias da TV. A criaturinha de apenas 3 anos, após despedir-se do primo que adora, fez um dramalhão digno de atriz de novela mexicana! Colocou a mãozinha na testa e choramingou: "Eu amo tanto meu primo! Eu nunca amei ninguém assim!"
    Pode uma coisa dessas?

    ResponderExcluir