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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A QUESTÃO DOS MODELOS E A CIRURGIA PLASTICA

A QUESTÃO DOS MODELOS E A CIRURGIA PLÁSTICA
Fernando Lefevre
2010
Parto do principio que refletir sobre modelos no mundo contemporaneo poderá nos ajudar a entender boom da cirurgia plastica entre nós brasileiros na atualidade.
Nós todos somos humanos, portanto imperfeitos. Os seres/ modelo não, são perfeitos (não porque de fato sejam seres perfeitos mas porque são virtuais, intocáveis).
Os modelos também são seres desejáveis, invejáveis; queremos ser como eles. Isto porque eles são compatíveis com ausencia de separação entre fantasia e realidade que caracteriza nossa primeira infancia, geradora de um desejo primário de plenitude e felicidade total que vai nos acompanhar pelo resto da vida.
E porque vivemos num mundo onde tudo é consumo, não só podemos mas nos é dito a todo instante: “sejam como os modelos (isso é possível!!) comprando as roupas que usam, os carros que vendem, as casas onde moram, os lugares onde vão,as roupas que usam, os regimes que fazem, as revistas onde eles estão, os seus corpos-via cirurgias plásticas”.
Mas se você observar as pessoas na rua, no metrô, numa sala de cinema, numa cidade como São Paulo por exemplo, fica espantado como a grande maioria delas são feias, gordas, imperfeitas, mal vestidas, desarmônicas, etc.
E provavelmente estas pessoas também são tristes, deprimidas, frustradas.
O mundo é feio, e não porque tudo seja efetivamente feio (há até pessoas bonitas, bem vestidas, bem feitas na rua) mas porque não é um modelo, não é virtual.
A você é dito a todo momento para comprar um modelo, um pedaço de modelo e você acaba comprando na expectativa completamente fantasiosa de virar um modelo mesmo sabendo perfeitamente que você é concreto, feito de carne e osso e que portanto nunca vai virar um modelo.
Você cresceu, não é mais uma criança e portanto deveria ter deixado o mundo da fantasia mas a sociedade de consumo te puxa para lá, para trás, fazendo, pela via do consumo, você voltar a se sentir e querer sentir como uma criança.
Voce é, portanto, um ser cindido, aquele que se sabe humano vivendo ao mesmo tempo a fantasia amarga do ser modelo e,com isso, o sentimento de uma perpétua frustração.
Por outro lado, deixar de viver correndo atrás do modelo fantasioso, em vez de representar postura realista implica em sentimento insuportável de derrota, de morte, em abandono da energia vital, daquela força que nos impulsiona para frente, para a vida.
E para que nunca abandonemos a luta (que eles chamam de nossos sonhos), uma mesma historinha mal intencionada é nos vendida em todo canto e nesta historia se conta que ele ou ela, que virou um ícone, um modelo era, contudo, antes de ser modelo, um ser desprezível e anônimo como você.
Portanto, o modelo é uma fantasia virtual mas feita com matéria prima de carne e osso o que quer dizer que seus e nossos sonhos poderão um dia virar realidade e, portanto, todos virarmos um modelo.
E, mais ainda, neste conto de fadas mercadológico, a ciencia e a tecnologia se integram organicamente, virando parte do universo da fantasia, deixando de ser instrumentos da dúvida, do questionamento e do avanço do conhecimento humano para funcionar como uma varinha de condão que pode transformar sonhos em realidade.
O cartão de crédito e a prestação, ou seja, a separação entre os recursos financeiros efetivamente disponíveis pelos individuos e a sua capacidade de comprar o objeto desejado, fazem o resto viabilizando o acesso generalizado ao mercado de consumo vendedor dos sonhos.

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