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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O QUE A PROMOÇÃO DE SAUDE TEM A VER COM O CONTROLE DA VIOLENCIA?

A VIOLENCIA E A PROMOÇAO DE SAÚDE

Antigamente, por volta dos anos 50, aprendi, nas aulas de geografia, que uma ilha era um pedaço de terra cercado de água por todos os lados.
Depois a definição mudou mas isso não importa agora; não quero falar de geografia mas de violência.
Nessa linha, sinto-me (e creio que muitos também) uma ilha, ou seja, um pedaço de ser humano (ou do ser humano,genérico) cercado de violência por todos os lados.
Como o mar, a violência que nos cerca é também multiforme,movediça, flutuante, traiçoeira, inesperada, liquida, como diria Bauman
Na televisão, esta notória fábrica de violência, não estamos cercados apenas de imagens e sons da violência como conteúdo mas também por imagens e sons violentos: uma propaganda de automóvel ou de aparelhos de televisão, diferentemente de um programa onde se mata e esfaqueia a vontade, não apresenta, em si, um conteúdo de violência mas as imagens e os sons desta propaganda agridem porque seu volume é brutalmente aumentado em relação ao que se via ou escutava imediatamente antes, e também porque as cores são violentas, os cortes de imagem são violentos, os anunciadores berram, ouve-se muita percussão violenta, etc.
O transito, nem falar, um campo de batalha: carros destroçados, motoboys espalhados no asfalto, sirenes urrando, motoristas se insultando, buzinas soando.
Mesmo o humor é violento: os humoristas destroem suas vítimas, ridicularizando-as, insultando suas imagens corporais, seu amor próprio, suas performances.
Pais agridem filhos, filhos agridem pais, homens batem em suas mulheres, corintianos cobrem palmeirenses de porrada e vice versa.
A violência é tão omnipresente que não é nada fácil defini-la nem cercá-la conceitualmente. Por exemplo, que nome daríamos para o seu contrário? Em português a única possibilidade é “não violência” (“paz” não é o contrário de violência mas de “guerra”) o que indica que mesmo na sua ausência ela não sai de cena.
Violencia, no fundo, todos sabemos o que é porque a sentimos a todo instante mas não é fácil defini-la.
Arriscaria dizer que ela tem a ver com a irrupção rápida e súbita de algo, com um som que agride os tímpanos ou que assusta; também é claro com imagens em flash e, naturalmente, com dilaceração, destruição de corpos, mentes, coisas da cultura e da natureza. Também com tudo de mal que se faz ao “outro” como exclusão, isolamento, expulsão, diminuição, exílio.
O que tudo isso tem em comum são sujeitos humanos; porque não considero que a natureza e os bichos não humanos sejam violentos porque isso nos inocentaria já que se poderia então dizer que a violência é natural e, consequentemente, inevitável, o que não é verdade (porque se fosse estaríamos todos perdidos).
A violência portanto é de responsabilidade humana o que quer dizer que poderíamos, perfeitamente, não ser violentos, não praticar violência.
Promoção de saúde é pois, também, promoção da não violência.
O que, com certeza, é um enorme desafio porque, vale reconhecer, nascemos com o germe da violência em nós, porque crianças deixadas totalmente livres e sem controle (ou seja sem cultura) tem grande chance de se tornarem violentas.
Porisso, num certo sentido, violência não combina com liberdade e também liberdade, num certo sentido,não é um valor defensável.
Porisso também, controle, num certo sentido, é um valor defensável.
Porisso, promover a não violência implica em controlar a violência humana em reprimi-la (o que não seria uma violência).
Utopia?

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